terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um padre militante.

Hoje conversei com um padre.
Não é daqui. Só disse que é do Sul.
Resolveu ser padre porque queria continuar os estudos e onde morava era dificil chegar à uma escola. Tem 72 anos de idade e 45 anos de batina.
É um padre que na igreja em que direciona é conhecido como rígido e zangado.
Hoje, conversando com ele percebi como ele é rígido. Talvez seja pelo simples fato dele querer tudo em ordem, ou por não aceitar certas atitudes dos discipulos e acabar respondendo a todos. Não tem papas na língua. É um homem inteligente. Não importa o grau de importancia da pessoa a quem se dirige, se ela faz algo que não agrada sua moral, ele fala, chama a atenção.

Uma coisa que chamou a minha atenção foi ele falar sobre esmola. Esmola é algo que ele diz não dar. Não acha correto pedirem esmolas na porta da igreja. Aquelas senhoras que ficam andando de igreja em igreja, pedindo esmolas nas portas, se a pessoa der pra uma, todas avançam. Realmente. Ele tem razão. Isso dá medo em qualquer pessoa.

Contou-me várias coisas sobre sua vida. Disse no inicio que era um homem sem coração. O que vocês acham que isso quer dizer? Logo pensei: como um padre não tem coração? Não tem compaixão pelo próximo? E como que ele falar isso pra mim abertamente? Mas logo ele me explicou que ele teve infarto. Quase sorriu nessa hora, por causa dos meus pensamentos loucos sobre a compaixão do padre. Ele disse que o médico chegou a dizer que ele não passaria de 1986, que foi quando ele teve o infarto. Pois é, o médico errou. E 22 anos depois, ele está aqui.

Já ficou alojado com o MST em Santa Catarina. Já teve uma paróquia em alguma favela. E quando se aposentar, já disse que ele vai largar tudo e se mudar para um alojamento quilombola em Alcântara, para viver em paz. É um padre altamente revolucionário, luta sempre pelo direito do povo e dos mais pobres.

Quando cheguei na casa dos padres, um padre com uma cara de malvado me atende na porta, antes mesmo de perguntar se o padre Afonso está, ele já vai abrindo a porta pra eu entrar. Eu olho cerca de 4 padres, todos sentados assistindo televisão. A maioria idosos e um bem novinho.

Ele não é o tipo de padre que sorri o tempo todo, ele não faz questão de ser gentil nas suas celebrações. Mas a forma como me recebeu em sua casa foi um doce. Com um sorriso nos lábios e com uma cara de espanto. Também, como ele iria imaginar que uma garota ia aparecer do nada na porta da sua casa a noite, querendo conversar com ele?
Me recebeu muito bem. Levou-me para a sala de visitas da casa dos padres. Nem imaginava que tinha toda uma estrutura na casa deles.

Ele me contou seus planos para o Natal. Vai fazer uma festa de Natal para os flanelinhas na porta da igreja. Não vai distribuir cestas, nem dar presesntes, tudo isso ficou a critério dos próprios flanelinhas. Cada um vai ter que dar um taxa para fazerem a festa. Ele ajuda do jeito que pode, mas não dando as coisas de graça. Ele quer que todos trabalhem. Esse pensamento dele é bom. Nem sempre as pessoas dão valor ao que veio de graça (eu penso assim).

Conversei com ele durante pouco mais de uma hora. Não queria que eu o gravasse, pediu que apenas conversassemos, mas da forma como ele falava eu não ia gravar nada e fui obrigada a ligar o meu gravador. No final, ele perguntou se eu havia gravado, disse q sim. ele fez uma cara meio que de decepção, mas eu me expliquei. Ele queria que eu inovasse. Mas como? Só se depois eu inventasse toda a nossa conversa. Ele acabou aceitando. Fazer o que? Eu já tinha tudo gravado mesmo.
Nos despedimos, agradeci e fui embora. Creio que amanha irei assistir à uma celebração dele.

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